segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Comida Titãs


Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...


Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto


domingo, 11 de novembro de 2012

Dica de leitura

Dica de leitura sobre o tema do nosso blog para quem deseja se aprofundar no assunto. Autor: Renato Cancian, editora:Claridade

Dados Técnicos

  • ISBN-13:9788588386617
  • ISBN-10:8588386615
  • Acabamento:Brochura
  • Nº da Edição:1
  • Ano Publicação:2011
  • Nº de Página:80

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Dilma revela detalhes de torturas que sofreu na ditadura militar


Notícia retirada do site terra dia 17 de julho de 2012
A presidente Dilma Rousseff foi colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dentária durante as torturas que sofreu na ditadura, segundo revelam os jornais O Estado de Minas e Correio Braziliense.
Os periódicos reproduzem uma entrevista de Dilma ao Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais concedida em 2001, na qual narra as torturas que sofreu entre 1970 e 1973, quando foi detida e condenada por um tribunal militar como militante de um grupo de esquerda que lutava contra o regime militar.
No depoimento, a chefe de Estado disse que às vezes não sabia se os interrogatórios "de longa duração" aconteciam de dia ou de noite. Os torturadores costumavam amarrá-la de cabeça para baixo para depois aplicar cargas elétricas, um método de tortura que "não deixa rastro, só te mina", segundo as palavras da presidente.
"O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida", afirmou Dilma. A presidente contou, ainda, que até hoje segue tendo problemas no osso do suporte do dente em razão de um soco que levou na boca. "Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu", contou Dilma.
Essas sessões de torturas foram realizadas no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo, e também em uma prisão da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ditadura em charges

Ilustramos algumas charges e tiras que satirizam a repressão usada no período dos ''anos de chumbo''.






sábado, 3 de novembro de 2012


Aos 86, morre o delegado Renato Soares
Envolvido em prisão de madre, Soares chegou a ser excomungado pela Igreja Católica, decisão revista em 1975

Ex-policial sofreu infarto em sua casa; à Folha ele negou ter torturado madre Maurina em 1969
DE RIBEIRÃO PRETO

O delegado aposentado Renato Ribeiro Soares morreu anteontem, aos 86 anos, em Ribeirão Preto, cidade em que morava e onde atuou profissionalmente entre as décadas de 1960 e 1980.
Soares ficou conhecido por suas ações durante a ditadura militar (1964-85).

Um dos fatos de maior repercussão -inclusive nacionalmente- foi quando Soares chegou a ser 
excomungado devido à prisão em 1969 de madre Maurina Borges da Silveira, outra personagem simbólica na história de Ribeirão Preto.

Soares e outro delegado - Miguel Lamano- foram excomungados pelo dom Felício César da Cunha Vasconcellos, que foi arcebispo de Ribeirão entre 1965 e 1972.

O caso envolvendo a tortura sofrida por madre Maurina na prisão inspirou religiosos como dom Paulo Evaristo Arns a se engajar na luta social.

Madre Maurina morreu no ano passado em Araraquara, aos 87 anos, por falência múltipla dos órgãos.

A punição religiosa a Soares, no entanto, não o acompanhou por toda a vida, já que a Igreja Católica o absolveu da excomunhão em 1975.

Doze anos mais tarde, ele se aposentaria da carreira policial. O ex-delegado trabalhou em Ribeirão Preto até 1983, quando pediu transferência para São Paulo, onde ficou até a aposentadoria.

No ano passado, o delegado aposentado afirmou à Folha que não houve violência contra madre Maurina e presos políticos.
"Nunca torturei ninguém. E jamais torturaria uma freira", afirmou.

Especificamente sobre o caso da religiosa, o delegado aposentado disse que sempre a tratou bem.
"Nunca pus a mão na madre, sempre a tratei com o maior respeito", disse, em sua última entrevista ao jornal, em março de 2011.

INFARTO
Soares estava doente -sofria com uma metástase óssea na região da coluna-, mas morreu vítima de um infarto às 9h do sábado, segundo a sua mulher, Neusa Salim Soares, 80.
Após ter sido velado em Ribeirão Preto, o corpo de Soares foi encaminhado para o crematório de Jaboticabal, de acordo com a família."[Ser cremado] Era a vontade dele", disse Neusa.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ribeirao/56049-aos-86-morre-o-delegado-renato-soares.shtml

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CEB: um novo sujeito na vida da igreja


As comunidades eclesiais de base (Cebs), organizadas desde meados dos anos sessenta, Caracterizadas como importante movimento de formação de lideranças para a sociedade civil, as Cebs no regime militar foram praticamente o único movimento social de contestação a atuar na legalidade. Com a redemocratização integraram o amplo leque dos movimentos populares, representando a encarnação de um novo modo de ser Igreja que fez a “opção preferencial pelos pobres”. Não se restringindo à animação da fé partiram para a organização dos mais pobres, incentivando a luta pelos seus direitos e organizando importantes movimentos reivindicatórios.. No caso brasileiro, a Igreja nacional vivia da dependência de movimentos europeus e sua ação pastoral orbitava em torno da paróquia, incapaz de responder às urgências da problemática brasileira. Em consonância às determinações do Vaticano II e na busca de uma nova estrutura que dinamizasse a vida religiosa e uma pastoral mais versátil e adaptada à realidade nacional a CNBB elaborou o Plano de Emergência (1962-1965) e o Plano Pastoral de Conjunto (1966-1970), nos quais se propôs a renovação da antiga pastoral paroquial: “Nossas paróquias atuais deveriam ser compostas de várias comunidades de base, dada sua extensão e densidade demográfica (...) será de grande importância empreender a renovação paroquial pela criação dessas comunidades de base (...) onde os cristãos não sejam pessoas anônimas”.  Este processo de renovação foi coroado de bastante êxito no Brasil. Ao mesmo tempo, as orientações do Vaticano II e Medellín sobre justiça social, democracia e direitos humanos, geraram muitos conflitos com o regime implantado em 1964, situados na incompatibilidade entre a lógica defendida pela Igreja e a colocação em prática pelo regime militar de uma lógica capitalista estrita. Esta incompatibilidade ficou clara quando da edição do AI-5 (1968), que opôs sistematicamente estas duas Instituições. Sobre esse significativo avanço do movimento operário e popular no país, a Igreja se inseriu estimulando os grupos de base, tanto em áreas rurais, através dos Sindicatos e do MEB, como nos
centros urbanos, pela Ação Católica e seus grupos especializados (ACO, JOC, JUC, etc.), algumas vezes aliadas e noutras vezes para fazer frente ao avanço de grupos esquerdistas. O golpe dos militares, com apoio de grupos econômicos nacionais e internacionais, interrompeu a crescente organização da sociedade civil brasileira.  Os canais de articulação da sociedade civil foram violentamente desarticulados e silenciados, suas lideranças presas, perseguidas e obrigadas ao exílio. A Igreja gradativamente assumiu a cena política, contribuindo para reorganizar a dilacerada sociedade civil brasileira. a hierarquia católica apoiou integralmente o golpe dos militares, temendo o avanço comunista no país. Porém à medida que a ditadura se tornou “mais dura”, a Igreja Católica, mantendo sua abertura interna, principalmente no governo Geisel, assumiu uma função de denunciar as agressões aos direitos humanos, na medida em que membros da própria instituição são também atingidos pela repressão. Igreja e Estado entram em conflito. A Igreja dessa forma assumiu papel de relevância na defesa dos direitos humanos e na luta pela redemocratização. É neste cenário que começaram a se organizar em pequenos grupos as comunidades de base. Nestes espaços aos poucos vai se recompondo a voz de setores da sociedade civil, favoreceram a afirmação da cidadania dos

pobres e a presença da Igreja junto ao povo.O caminho trilhado por estas comunidades ao longo da década de 1970, marcado pela grande autonomia em relação ao Estado, o seu crescente engajamento social e partidário, bem como a possibilidade de conferir, a partir do próprio cotidiano, aspectos de crítica social contundente, parecem, porém, ter extrapolado os limites propostos pela própria Igreja. Além de que, na
nova conjuntura dos nos oitenta, marcada pela crescente abertura política e reorganização da sociedade civil, com o ressurgimento de sindicatos independentes, partidos políticos e associações diversas, pareceu difícil às Cebs manterem mesma dinâmica. A Igreja deixou de ser o único espaço visível de presença crítica e aglutinador das oposições. Foi o momento das Cebs se abrirem para a sociedade. Frei Betto elucidou esta questão. Depois de anos de intensa mobilização, a década de 1990, época de incertezas e da força devassadora da globalização e do neoliberalismo, fez essas comunidades repensarem sua caminhada,
descortinando-se um cenário de “(...) diminuição das certezas e aumento das indagações”, como define Teixeira , sem, contudo, abandonar o caminho trilhado. Em meio a uma aparente escuridão, as Cebs continuam a lutar e acreditar na “nova sociedade”, mesmo que ela não seja tão clara quanto antes, é certo que os sonhos de utopia não se concretizaram e nem se concretizarão na sociedade que idolatra o Deus Mercado, excluindo e negando a seu povo o bem estar social e dignidade de ser verdadeiramente homem e
mulher. É possível construir uma sociedade livre e justa, democrática, participativa e igualitária. Esta é a certeza que nutre sonhos e está presente nos esforços e lutas dos milhares de participantes das Cebs, que ainda hoje, teimosamente, insistem em continuar.

fonte: http://www.fafich.ufmg.br/temporalidades/pdfs/3p73.pdf

quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Resistência católica nos anos de chumbo

Médico e professor, o ex-militante Lurildo Ribeiro Saraiva lança Água Braba, livro que relata os primeiros passos da luta contra a ditadura de estudantes ligados à Igreja




"Eu sei quem são eles. Sei os nomes deles. Vou revelar à Comissão da Verdade.”" O ex-militante estudantil da Juventude Universitária Católica (JUC), que combateu a ditadura de 1964 e inspiraria a organização Ação Popular (AP), e hoje cardiologista e professor da UFPE, Lurildo Ribeiro Saraiva, 64 anos, refere-se aos componentes do temido Comando de Caça aos Comunistas (CCC), responsável por atentados e assassinatos de oponentes do regime militar, como o do padre Antônio Henrique Pereira Neto, em 26 de maio de 1969. Dias antes do sacrifício de padre Henrique, Lurildo esteve com o religioso, que era o pastor nomeado pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, como assistente da Pastoral da Juventude. A memória preservada dos fatos que antecederam e culminaram no suplício de padre Henrique e dos atos da resistência estudantil à ditadura é que o hoje médico quer relatar à Comissão Estadual da Memória e da Verdade. “"Eles nasceram nas salas de cinema. A primeira manifestação pública foi o trote de Medicina de 1965"”, relembra.
A resistência dos estudantes nas ruas, o protesto no debate da Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire) sobre a Aliança para o Progresso, em 1966, com o então candidato a presidente dos Estados Unidos, senador Robert (Bob) Kennedy –- que dois anos depois seria assassinado em Los Angeles -–, os dias de perseguições, ameaças, repressão e mortes de militantes são narrados no livro Água Braba -– Nos Tempos da Ditadura Civil Militar, que tem dom Helder como figura central da resistência estudantil católica à ditadura militar. Os tempos de repressão estão relatadas no livro que o ex-militante lança quinta-feira (27), às 17h, no Espaço Dom Helder da Igreja das Fronteiras, na Boa Vista, Recife, marco da resistência do ex-arcebispo. “"Padre Henrique vinha sendo perseguido 20 dias antes de sua morte"”, revela Lurildo. Fatos pré-Golpe de 64, a deposição do governador Miguel Arraes, as primeiras manifestações nos cinemas, o movimento estudantil nas ruas e o cortejo fúnebre do padre Henrique de 10 quilômetros, da Igreja do Espinheiro ao Cemitério da Várzea, cercado por soldados com baionetas empunhadas, historiam os anos 60.

 TRUCIDAMENTO

Deus lhe pague Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir 
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir 
Por me deixar respirar, por me deixar existir 

Deus lhe pague 

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí" 
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir 
Um crime pra comentar e um samba pra distrair 

Deus lhe pague 

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui 
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir 
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi 

Deus lhe pague 

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir 
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir 
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair

Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir 
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir 
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir 
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir 
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir 

Deus lhe pague 




segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O papel da Igreja Católica na ditadura militar

O período de vigência do regime militar (1964-1985) representou um dos momentos mais dramáticos da história do país no que se refere ao desrespeito e à violência contra os mais elementares direitos do cidadão. Depois de assumirem o poder por meio de um golpe de Estado, os militares consolidaram um regime político ditatorial que reprimiu violentamente os movimentos trabalhistas e os grupos de oposição.

A sociedade brasileira foi submetida ao terror de Estado, pois as inúmeras leis de exceção promulgadas ao longo desses anos romperam com a legalidade jurídica ao suprimirem os direitos individuais e constitucionais e as liberdades democráticas.

A tortura, prática cruel e desumana, largamente empregada pelos órgãos policiais contra os cidadãos comuns para extrair confissões de suspeitos, tornou-se uma política de Estado a nortear a repressão contra os envolvidos em quaisquer atividades políticas de oposição ao regime.

Foi nesta conjuntura de extrema violência contra os cidadãos que a Igreja católica assumiu um papel de destaque na luta contra a repressão e a tortura e na defesa intransigente dos direitos humanos, transformando-se na mais importante instituição de oposição à ditadura militar. E para entendermos esta postura da Igreja católica é necessário levarmos em consideração dois fatores: as mudanças nas diretrizes pastorais e teológicas e a ordem política e social estabelecida pelos militares após 1964.

Novas diretrizes pastorais
O período que antecede o golpe de 1964 foi uma fase de muitas mudanças sociais que afetaram diretamente a Igreja. A sociedade brasileira se encontrava em franco processo de modernização e o país se desenvolvia rapidamente deixando para trás seu passado agrário para se tornar uma nação predominantemente urbana e industrializada.

Nestas circunstâncias, a Igreja católica passou a enfrentar a perda de adeptos e a "crise de vocações", ou seja, gradualmente o catolicismo perdia influência na sociedade devido à concorrência de outros credos religiosos (principalmente o protestantismo de massa e a umbanda) enquanto que o sacerdócio deixava de ser um atrativo para os jovens.

A Igreja precisou, então, ajustar-se às mudanças que estavam ocorrendo. No transcurso das décadas de 1950 e 1960, ela vivenciou uma fase de estimulantes experiências pastorais que levou a instituição eclesiástica a se envolver com os mais variados setores, segmentos e classes sociais que surgiram com o processo de modernização social.

Assim, inovadoras práticas de evangelização fizeram com que a Igreja criasse uma série de organizações e entidades visando aproximar-se dos trabalhadores urbanos (por meio da JOC: Juventude Operária Católica e da ACO: Ação Católica Operária), dos estudantes (por meio da Juventude Estudantil Católica: JEC e da Juventude Universitária Católica: JUC) e das classes populares de modo geral (por meio das Comunidades Eclesiais de Base: CEBs). Nas décadas seguintes, surgiram as Comissões de Justiça e Paz (CJP), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O Concílio Vaticano 2º. (1962-1965)
O processo de modernização vivenciado pela sociedade brasileira era um fenômeno mundial, ou seja, afetava praticamente as mais longínquas e arcaicas sociedades do mundo produzindo profundas transformações na ordem social. Neste contexto, o Papa João 23 decidiu convocar o Concílio Vaticano 2º. a fim de discutir, com os membros da Igreja, qual seria o papel da instituição eclesiástica num mundo marcado por profundas transformações econômicas, sociais e políticas.

As encíclicas papais e as constituições pastorais promulgadas no decorrer desse evento legitimaram uma série de inovações teológicas e pastorais que mudaram os rumos do catolicismo mundial. Nos países em desenvolvimento, como era o caso do Brasil, estas mudanças foram marcantes.

A Igreja católica foi durante séculos uma instituição arcaica, elitista e conservadora, mas se modernizou e se aproximou das classes populares empenhando-se com afinco na promoção da justiça social e defesa dos direitos humanos.

O conflito entre a Igreja e o Estado militar
Quando ocorreu o golpe de 1964, as autoridades mais influentes dentro da Igreja católica no Brasil apoiaram a intervenção militar na política acreditando que o governo do presidente deposto, João Goulart, fosse uma séria ameaça à ordem social vigente devido a suas inclinações supostamente esquerdistas e revolucionárias.

Entretanto, conforme os anos foram passando, ficou cada vez mais evidente que os militares não desejavam transferir, como era esperado, o poder para os civis. Gradualmente, o regime se transformou numa ditadura altamente repressiva que amordaçou a sociedade e começou a eliminar, através de prisões, torturas e assassinatos, todos os focos de oposição.

Porém, à medida que a Igreja ampliava sua inserção junto a outros segmentos sociais, principalmente as classes populares, os seus membros (padres, freiras, bispos, arcebispos, etc.) também se transformaram em alvos da repressão policial. Pouco a pouco, as autoridades mais influentes dentro da Igreja passaram a assumir uma postura mais crítica com relação aos governos militares, opondo-se veementemente à tortura e à violência repressiva. Por outro lado, ao opor-se de modo cada vez mais firme contra a ditadura, a Igreja atraiu diferentes grupos e setores sociais que também estavam sendo vítimas da repressão policial.

domingo, 21 de outubro de 2012


Resenha: A IGREJA CATÓLICA E OS “ANOS DE CHUMBO”

Pode- se dizer que ficou na opinião do homem de religião muitas coisas exercidas pela igreja e pelos movimentos sociais na Década de 50. O golpe militar de 64 restringiu muitos dos movimentos sociais que existiam na época onde havia boa parte de lideres católicos que voltavam- se em sua grande maioria contra os abusos cometidos na ditadura. Vários bispos e padres antes no cerne da ditadura passavam a imagem para a sociedade de ingênuos e conservadores ,logo, mudaram de postura e tornaram o povo mais fraco em relação as suas vontades e sem defesa contra desigualdade social e violência política.

Muitos dos historiadores como por exemplo Diego Silveira não concorda como silêncio da igreja após o golpe, pois a sociedade brasileira ainda acreditava numa retomada á democracia.

Com ascensão dos militares no poder, a igreja católica começou a se distanciar daquele papel que era tradicionalmente cabível e que o legitimava. Nessa época, a igreja católica assumiu posturas contrárias e diferentes na qual a sociedade estava acostumada a ver.
 Tão logo viu frustrada a aposta do CNBB de que houvesse o retorno á democracia no pós-ditadura militar que tão logo os militares não conseguiram calar a igreja. De acordo com pesquisas feitas em algumas fontes da internet que se encontra no final desta postagem, o trabalho da CNBB e de vários grupos da igreja católica, foram fundamentais na luta contra a ditadura militar e a mais longo prazo, fundamental pela redemocratização do país e no consórcio democrático participativo.

A realidade no mundo contemporâneo em busca pela democracia é outra. As oportunidades no ambiente democrático se multiplicaram e se alargaram. Tais expressões de liberdade religiosa já não é de suma importância visto que houve mudanças muito bruscas no mundo contemporâneo social e a hierarquia católica não é mais um símbolo tão importante e valorizado quanto era antes.





REFERÊNCIA: 


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Teologia da libertação e a Ditadura Militar no Brasil

Já é de nosso conhecimento que a Igreja Católica apoiou o Regime Militar instaurado no Brasil após o golpe de 1º de Abril de 1964. E temos como uma espécie de marco desse apoio a "marcha da família com Deus pela liberdade", que se colocava contra o Presidente em exercício João Goulart e ao "regime comunista" do qual estavam temerosos.
O que começaremos a ver neste post é, como esse apoio começou a ser minado e como determinados membros da Igreja Católica se engajaram na luta contra o Regime Militar impulsionados por uma filosofia então nascente na Igreja e que até hoje gera grande polemica em seus bastidores.
A Teologia da Libertação, surgida no final dos anos 60, fomentada pelo Concílio Vaticano Segundo e pela  Assembléia Geral da Conferencia Episcopal Latino Americana em Medellín que modificou a forma da Igreja de evangelizar e de se colocar ao lado dos mais necessitados. 
No link abaixo é possível ter acesso a um interessante artigo a respeito dessa corrente filosófica dentro da Igreja Católica.
Esta igreja libertadora pensava na defesa dos oprimidos e no levante contra a fome, além disso, lutavam pelo direito à propriedade privada, pelo desenvolvimento social, pelos direitos humanos. A Teologia da Libertação entende que a igreja deve caminhar ao lado dos oprimidos, deve ver a realidade a partir da ótica dos pobres, portanto a  e a prática pastoral tem que seguir essa ideologia.
Nesse período tivemos nomes que se destacaram na luta intelectual contra a ditadura militar entre eles os Freis Dominicanos Betto e Tito que se aliaram a  à ALN (Aliança Libertadora Nacional) comandada por Carlos Marighella 
contra o regime militar. 
O apoio da Igreja ao regime começou a cessar a medida que a violência e opressão aumentou consideravelmente. Porém a Teologia da Libertação não reflete a posição da Igreja de uma forma geral, pois traz consigo ideais marxistas, não apoiados pela instituição ainda hoje.
Abaixo um trecho de documento emitido pela Igreja Católica em 1970 :

"Não podemos admitir as lamentáveis manifestações da violência, traduzida nas formas de assaltos, seqüestros, mortes ou quaisquer outras modalidades de terror. Pensamos primeiramente no exercício da JUSTIÇA, que, sinceramente, cremos estar sendo violentado, com freqüência, por processos levados morosa e precariamente, por detenções efetuadas em base a suspeitas ou acusações precipitadas, por inquéritos instaurados e levados adiante por vários meses, em regime de incomunicabilidade das pessoas e em carência, não raro, do fundamental direito de defesa. Seríamos omissos se não frisássemos, neste momento, nossa posição firme contra toda e qualquer espécie de tortura."
 (Documento da Décima Primeira Assembléia Geral da CNBB, SEDOC, 3 (1970-1971): 85-86 APUD MAINWARING Igreja Católica e Política no Brasil (1916-1985). São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.p.130.)

Me parece que uma das melhores representações que temos da participação da Igreja na luta armada são os frades dominicanos que se aliaram à ALN e participaram de manifestações intelectuais, denúncias ao regime entre outras.
Segue a dica de um ótimo filme baseado no livro "Batismo de sangue" escrito por Frei Betto, lançado em 1983. O filme homônimo basicamente, narra a história de religiosos que resolveram se aliar à ALN contra o regime militar.


Referências: 

MAINWARING, Scott. Igreja Católica e Política no Brasil (1916-1985). São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Projeto Brasil Nunca Mais

 
Projeto Brasil Nunca Mais - Projeto de Pesquisa coordenado pela Arquidiocese de São Paulo

Em agosto de 1979, começava a dar seus primeiros passos, no silêncio necessário da discrição e do sigilo, o Projeto de Pesquisa “Brasil Nunca Mais”. Um reduzido grupo de especialistas dedicou-se, por um período superior a cinco anos, à elaboração de um volumoso estudo.

No mundo todo, a questão da repressão política é quase sempre levantada a partir de denúncias dos atingidos, ou de relatos elaborados por entidades que se dedicam à defesa dos direitos humanos. Emotivos ou equilibrados, são testemunhos que ajudam a revelar uma história oculta. Mas tropeçam, às vezes, na desconfiança daqueles que alegam serem depoimentos tendenciosos, por partirem de vítimas que, na sua maioria, teriam motivações políticas.

A pesquisa “Brasil Nunca Mais” (BNM) conseguiu superar esse dilema, estudando a repressão exercida pelo regime militar a partir de documentos produzidos pelas próprias autoridades encarregadas desse controvertida tarefa. Reunindo as cópias da quase totalidade dos processos políticos que transitaram pela Justiça Militar brasileira entre abril de 1964 a março de 1979, especialmente aqueles que atingiram a esfera do Superior Tribunal Militar (STM).

Foram obtidas, por inúmeros caminhos, cópias de 707 processos completos e dezenas de outros incompletos, num total que ultrapassou um milhão de páginas imediatamente micro filmadas em duas vias, para que uma pudesse ser guardada, sem riscos, fora do país.

Sobre o outro conjunto de microfilmes uma equipe se debruçou durante cinco anos, produzindo um relatório, chamado de Projeto A, de aproximadamente cinco mil páginas, contendo informações impressionantes. Cópias restritas do Projeto A foram distribuídas entre universidades, bibliotecas, centros de documentação e entidades voltadas para a defesa dos direitos humanos, no Brasil e no exterior.

Estabelecendo 15 de março de 1979 como data-limite do período a ser investigado, os responsáveis pela pesquisa procuraram assegurar um mínimo de distanciamento histórico em relação à repressão política enfocada. E, mais que isso, evitaram apreciar fatos ainda em desenvolvimento.

No livro Vigiar e Punir, o pensador francês Michel Foucault já havia mostrado ser possível reconstruir boa parte da história de uma época através do processo penal arquivado no Poder Judiciário de cada país. A verdadeira personalidade do Estado ficava ali gravada, sob a forma de sentenças judiciais determinando torturas, esquartejamentos em praça pública, normas de vigilâncias carcerária, castigos ao corpo, punição ao espírito.

Recuperando a história das torturas, dos assassinatos de presos políticos, das perseguições policiais e dos julgamentos tendenciosos, a partir dos próprios documentos oficiais que procuravam legalizar a repressão política daqueles quinze anos chegou-se a um testemunho irrefutável.

A denúncia que uma vítima de tortura faz perante uma entidade de direitos humanos não questiona tão frontalmente as autoridades governamentais, quanto à verificação de que a mesma fora apresentada em tribunal, confirmada por testemunhas e até mesmo registrada em tribunal, registrada em perícias médicas, sem que daí resultasse qualquer providência para eliminar tais práticas, responsabilizando criminalmente seus autores.

O relatório começa situando, como estudo de referência, a evolução das instituições políticas do Brasil entre 1964 e 1979, partindo dos antecedentes do regime militar e completando-se com a montagem do aparelho de repressão erguido sobre o alicerce da Doutrina de Segurança Nacional.

Em seguida, são apresentadas as características metodológicas da pesquisa, a classificação dos processos quanto à natureza dos atingidos (organizações de esquerda, setores sociais e atividades) e explicados os instrumentos que serviram para a coleta de dados. Todas as informações, recolhidas por meio de dois questionários, foram armazenadas e processadas por computadores que forneceram, com programas especiais, listagens e estatísticas, cujos disquetes foram postos a salvo juntamente com os microfilmes. Nesse capítulo, é também explicada a constituição de um acervo separado de dez mil documentos políticos que estavam anexados aos processos, que será de grande valia para qualquer pesquisa futura sobre o movimento sindical brasileiro, a luta dos estudantes, a história das organizações clandestinas de esquerda.

O terceiro passo do relatório é uma discussão pormenorizada dos resultados da pesquisa no campo mais estritamente jurídico, mediante comparação entre o que as leis – mesmo as leis criadas pelo regime militar – determinavam e o que realmente aconteceu nos inquéritos e processos judiciais. Discutida, antes, a legitimidade duvidosa das várias Leis de Segurança Nacional e demais códigos baixados pelas autoridades militares, estuda-se, nesse item, a rotina do descumprimento das leis sempre que se tratasse de agravar o arbítrio sobre os investigados.

Segue-se, então, uma impressionante seqüência de transcrições de depoimentos relatando torturas, num total aproximando de dois mil e setecentas páginas datilografadas. São denúncias firmadas em juízo, com nomes de torturadores, de centros de sevícias, de presos políticos assassinados, de “desaparecidos”, de infâmias sem conta.

Desde seus primeiros passos, em agosto de 1979, até sua conclusão, em março de 1985, o Projeto de Pesquisa “Brasil Nunca Mais” não teve outro objetivo que não fosse o de materializar o imperativo escolhido como título da investigação: que nunca mais se repitam as violências, as ignomínias, as injustiças, as perseguições praticadas no Brasil de um passado recente.

O que se pretende é um trabalho de impacto, no sentido de revelar à consciência nacional, com as luzes da enuncia, uma realidade obscura ainda mantida em segredo nos porões da repressão política hipertrofiada após 1964. Para eliminar do seio da humanidade o flagelo das torturas, de qualquer tipo, por qualquer delito, sob qualquer razão.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Operação Condor vai receber uma enorme atenção", diz membro da Comissão da Verdade brasileira

Na primeira semana de setembro, os membros da CNV (Comissão Nacional da Verdade), instalada em março deste ano para apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, com destaque para o período da ditadura militar (1964-1985), participaram de um seminário em Brasília para debater e conhecer melhor as experiências de outras comissões da verdade nas Américas.

Um dos sete membros nomeados para a CNV pela presidenta Dilma Rousseff, Paulo Sérgio Pinheiro disse, em entrevista ao Opera Mundi, que um dos focos das investigações da comissão será a Operação Condor, a articulação entre os aparelhos repressores de Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. “Na Operação Condor, o Brasil foi muito esperto, não deixou muitas marcas, não assinava acordos informais nesse sentido”, e por isso a cooperação com esses países será fundamental para conseguir informações, afirmou.

Doutor em Ciência Política pela Universidade de Paris, Pinheiro foi secretário de Estado de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso e integrou o grupo de trabalho nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que preparou o projeto de lei da Comissão Nacional da Verdade.

Opera Mundi: O que a Comissão Nacional da Verdade no Brasil, que está iniciando seus trabalhos este ano, tem a aprender com outras experiências semelhantes na América Latina?
Paulo Sérgio Pinheiro: Primeiro, a nossa comissão é a primeira do século XXI, todas as anteriores foram no século XX. Em relação às mais antigas, como as de El Salvador, Guatemala e Argentina, muitas tecnologias e meios de difusão comuns atualmente, como internet, redes sociais, celular, telefone com câmera fotográfica, não existiam, então a nossa comissão fica em um outro patamar técnico.

UNIC Rio/Divulgação
É evidente que cada uma das 40 comissões de verdade que já existiram no mundo, desde os anos 1990, tem características próprias. O que une todas elas é essa questão do direito à memória e à construção de uma verdade que os regimes autoritários negaram ou se recusaram a enfrentar. Entre as experiências que nós debatemos nesse seminário, a de El Salvador e da Guatemala são muito específicas, porque elas foram realizadas por iniciativa da comunidade internacional e no pós-conflito, depois de guerras civis muito importantes. A do Peru também, porque era quase uma guerra civil entre o Sendero Luminoso e o governo ditatorial do [presidente Alberto] Fujimori.

Finalmente, a [comissão da verdade] mais próxima de nós é a do Paraguai, porque ela ocorre também depois de um longo período de ditadura, quase o dobro da nossa ditadura militar. Das experiências que nós debatemos, não só por ser mais próxima em termos temporais, mas também em termos do conteúdo, a do Paraguai é a mais próxima, também a do Uruguai guarda muitos pontos de contato. Nesse seminário, se discutiu mais sobre essas quatro comissões, Argentina, Guatemala, El Salvador e Peru, mas tratamos de outras também, como a experiência da África do Sul e a do Chile. Um ponto importante que queremos investigar é a colaboração entre os aparelhos repressivos de Brasil, Uruguai, Argentina e Chile para extermínio e prisão de militantes, a chamada Operação Condor.

OM: O que vocês pretendem aproveitar, dessas experiências, no trabalho da Comissão da Verdade no Brasil?
PSP: Por exemplo, experiências de audiências públicas, a confidencialidade nas investigações criminais, a importância das recomendações depois da publicação do relatório da comissão, a articulação com a universidade e com os diversos grupos da sociedade civil. Tudo isso foi muito interessante, especialmente porque as entidades que patrocinaram o seminário com o Ministério das Relações Exteriores, o Centro Internacional para Justiça de Transição, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos e o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul também não tratam só desses países que estavam mais presentes, mas do conjunto das experiências de comissões da verdade no continente.

OM: Além de Uruguai e Paraguai, as comissões da verdade na Argentina e no Chile também não se aproximam do trabalho que deve ser feito pela comissão brasileira, pois também foram criadas após ditaduras militares?
PSP: A da Argentina foi a primeira de todas, é a mãe das comissões da verdade. Na apuração e na publicação dos resultados, ela se aproxima muito. O que não se aproxima de nós é o momento atual chileno e argentino, onde está havendo uma responsabilização dos autores de violações dos direitos humanos. A nossa comissão tem o poder de documentar as autorias e as circunstâncias das violações, mas nós não somos um tribunal, aliás nesses países também não era um tribunal. O que ocorreu no Chile e na Argentina [em relação aos julgamentos] foi depois que os trabalhos das comissões terminaram.
Carlos Latuff


OM: Tanto no Chile quanto na Argentina houve maior resistência inicial dos militares, que conseguiram garantir, em um primeiro momento, que os trabalhos das Comissões fossem limitados (a Comissão de 1991 no Chile tinha poderes muito limitados, e na Argentina os governos civis decretaram leis de anistia aos militares). No entanto, depois esses entraves foram revogados e os trabalhos de investigação, julgamento e punição dos agentes do Estado foram retomados e estão, ainda hoje, em andamento, certo?
PSP: Esses desenvolvimentos não estavam previstos nos relatórios [das comissões], porque os relatórios abrem um procresso dinâmico. Mas nós ainda nem fizemos o relatório, não me cabe fazer futurologia com o que vai acontecer depois. No momento, só estou preocupado com como nós vamos terminar o trabalho em 21 meses, porque três meses já se passaram.

OM: E em relação à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), no julgamento de 2010, de manter a constitucionalidade da Lei de Anistia? Não interfere?
PSP: Sim, completamente. Primeiro, porque nós não debatemos isso. Em segundo lugar, isso não ajuda nem atrapalha, porque a comissão não está sujeita às mesmas restrições jurisdicionais que o sistema judicial brasileiro está. Nós já temos poderes suficientes para trabalhar. O primeiro é que a comissão tem o poder de convocar qualquer cidadão ou cidadã brasileira para depor, se não vem, nós denunciamos ao Ministério Público Federal para abertura de um inquérito.

Em segundo lugar, nós temos acesso a qualquer documento que nós julgarmos relevante para nós. Para dar um exemplo, no Ministério das Relações Exteriores nós estamos tendo acesso a todos os documentos secretos, no Itamaraty não se queimou nenhum documento, há quatro toneladas de documentos que podemos examinar.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

‘É ingenuidade pensar que tudo acabou’, diz Frei Betto sobre espiões da ditadura


“É muita ingenuidade nossa pensar que tudo acabou”. A frase é do escritor Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, um dos principais nomes da Igreja Católica brasileira na resistência à ditadura militar (1964-1985). Preso entre 1969 e 1974, acusado de integrar a Ação Popular ao lado do guerrilheiro Carlos Marighella, Frei Betto está convencido de que os militares ainda agem nos bastidores do Planalto espionando as mais altas autoridades do país, inclusive a Presidência da República.
Em entrevista ao iG, Frei Betto, que foi assessor especial da Presidência no primeiro governo Lula, disse ter alertado o então chefe de gabinete Gilberto Carvalho sobre a possibilidade de escutas telefônicas no Palácio do Planalto. “Estou convencido de que isso existe até hoje. Não que eles (militares) estejam me seguindo ou espionando. Mas tenho certeza que o MST e até a Presidência da República, sim”, afirmou.
iG – Como era a atuação da Igreja na proteção dos perseguidos pela repressão? Registros mostram que até bispos de direita como d. Eugênio Sales ajudavam a esconder alvos da ditadura.
Frei Betto – A minha pergunta é por que o d. Eugênio (morto no último dia 9, aos 91 anos) fez isso para estrangeiros e não fez para brasileiros? Essa é a minha pergunta.
iG – Existia uma rede de solidariedade na Igreja, uma rota de fuga com conexões no exterior?
FB – Meu trabalho principal foi organizar essa rota de fuga. Mandei umas 10 pessoas. Em geral, sequestradores do embaixador americano (Charles Elbrick). Ninguém acredita, a repressão muito menos, mas a verdade é que eu nunca fui na fronteira. No entanto, eu dominava o esquema da fronteira porque o (Carlos) Marighella tinha me passado como funcionava. Só tinha que receber as pessoas em Porto Alegre e dar a dica. Tinha duas passagens. Uma em Santana do Livramento com Rivera, no Uruguai, e outra em Passo de Los Libres, na Argentina. Então eu tinha que dar as coordenadas e passar um telegrama em código para a pessoa que ia ficar lá esperando e já sabia que alguém ia chegar lá com uma revista na mão, aquelas coisas. E passava. Alguns voltaram. Outros foram presos no Uruguai, Mas havia muita solidariedade em igrejas, conventos etc.
iG – Protestantes e outros grupos religiosos participavam dessa rede de solidariedade?
FB – Muito. O pastor Jamie Wright, por exemplo. O irmão dele foi assassinado, Paulo Wright, líder da AP (Ação Popular). Geralmente em Igrejas históricas como a Batista, Luterana, Presbiteriana, Metodista, judeus. Naquela época quase não existiam as neopentecostais. E todos eles divididos a exemplo da Igreja Católica.
iG – Como era lidar com os infiltrados?
FB – Era muito difícil. Quando estávamos presos no Dops, em 1969, havia lá o delegado Alcides Cintra Bueno que era chamado “delegado do culto” por ser especializado em religiões. Era um homem de formação católica meio carola, mas torturador. Como ele conhecia muito a mecânica das Igrejas era o que mais interrogava religiosos. Nós vimos frades de hábito que eram agentes dele e iam lá dar informação sobre subversão na Igreja. Além do Lenildo Tabosa que era do Jornal da Tarde, assistiu ao interrogatório do Frei Fernando e a vida inteira carregou esta cruz fazendo de tudo para negar. Mas nunca conseguiu convencer, Fernando viu.
iG – Até descobrirem a existência de infiltrados muitas pessoas caíram?
FB – Sim. Era muito difícil descobrir infiltrados. Muitos a gente detectou, mas tem gente que colaborou com a ditadura e vai morrer incólume. A não ser que tenha dado uma mancada. Tem um seminarista dominicano que a gente não sabe se ele já era colaborador quando entrou. Depois, na USP, descobriram que ele era agente da repressão. Ele sumiu do mapa durante uns cinco anos e então recebemos informação de que ele tinha sido levado para um treinamento na escola da CIA no Panamá. Quando eu saí da prisão ele reapareceu todo amiguinho dizendo que estava com saudade e falei para ele, cara a cara, “não sei se você é ou não é, mas não tenho a menor confiança em você e por favor não me apareça mais”.
iG – Essa paranoia durou até depois do fim da ditadura, não?
FB – Quando saí da prisão fui morar numa favela em Vitória e fiquei lá de 1974 a 1979. Já em 1977 comecei a voltar a São Paulo para trabalhar com educação popular. Quando Fernando Henrique, Almino Afonso e Plínio de Arruda Sampaio voltaram para o Brasil eles vieram com a ideia de fundar um partido socialista. Eu, naquele momento, estava no auge da mobilização pelas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e eles me convocaram para uma reunião na casa de um jornalista, cujo nome não vou citar pois estou subjetivamente convencido que esta pessoa era da repressão mas não tenho prova. Sei que me estranhou o fato de ele ser um repórter e ter um padrão de vida tão alto. E tome vinho, tome vinho, conversamos, eles tentavam me convencer que tinham a forma, um partido socialista, e eu entrava com a massa, as CEBs. Eu respondi que ia surgir um partido de baixo para cima, isso em 1978, por intuição, e depois surgiu o PT em 1980. Marcamos outra conversa, o jornalista insistiu para que fosse novamente na casa dele e isso acabou num impasse. Até que um frade daqui, depois de muitos anos, me perguntou se eu havia participado de uma reunião na casa de fulano, com Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente) e Plínio (de Arruda Sampaio) etc. Perguntei como ele sabia daquilo e o frade respondeu que um general amigo dele ligado ao SNI foi quem contou. Aí caiu a ficha. Tinha muito esse tipo de coisa. Recentemente peguei no arquivo público nacional todo meu dossiê. Ele vai até 1992. E tem coisas absolutamente inverossímeis.
iG – O senhor ainda toma algum cuidado especial?
FB - Estou convencido de que isso existe até hoje. Não que eles (militares) estejam me seguindo ou espionando. Mas tenho certeza que o MST e até a Presidência da República, sim. Seria muita ingenuidade nossa achar que o Planalto não é espionado. É o centro, o coração do poder. Quando trabalhei no Planalto (no primeiro governo Lula) duas coisas me chamaram atenção. Primeiro que todos os garçons eram das Forças Armadas. E o garçom é a pessoa que entra no meio da reunião, que enquanto está servindo o cafezinho fica escutando tudo, fica amigo das secretárias, tem trânsito livre até na sala do presidente. Não entra o ministro, mas entra o garçom. E outra coisa foi num dia em que o Lula estava viajando, subi na sala do Gilberto Carvalho (então chefe de gabinete da Presidência) e vi um pessoal na sala do Lula cheio de equipamentos. Perguntei o que era aquilo e o Gilberto disse que era o pessoal da varredura do Exército. Eu perguntei para o Gilberto qual a garantia de que eles não tiram um equipamento de gravação e colocam outro. Gilberto disse que nunca tinha pensado nisso.
iG – Mas seriam os militares?
FB – Sim. Os militares.
iG – Com qual objetivo?
FB – O objetivo é simples. Informação é poder.
iG – O que se sabe é que existe uma grande rede de espionagem em Brasília mas por razões econômicas, chantagem etc.
FB – Os militares neste ponto são mais... é como nos EUA. A CIA não prende ninguém. Ela só trabalha com informação. Quem prende é o FBI. É muita ingenuidade nossa pensar que tudo acabou.
iG – Os militares teriam um projeto de retomar o poder?
FB – Não. Eles têm o projeto de não serem surpreendidos e eventualmente até de manipular.
iG – Eles são movidos pelo medo?
FB – Não. É uma questão de inteligência militar mesmo.





domingo, 23 de setembro de 2012


Os evangélicos e a ditadura militar

Documentos inéditos do projeto Brasil: Nunca Mais - até agora guardados no Exterior - chegam ao País e podem jogar luz sobre o comportamento dos evangélicos nos anos de chumbo

Somente em 1968, quatro anos após a ascensão dos militares ao poder, o catolicismo começou a se distanciar daquele papel que tradicionalmente lhe cabia na legitimação da ordem político-econômica estabelecida. Foi aí, quando no Brasil religiosos dominicanos como Frei Betto passaram a ser perseguidos, que a Igreja assumiu posturas contrárias às ditaduras na maioria dos países latino-americanos. Os protestantes, por sua vez, antes mesmo de 1964, viveram uma espécie de golpe endógeno em suas denominações, perseguindo a juventude que caminhava na contramão da ortodoxia teológica. Em novembro de 1963, quatro meses antes de o marechal Humberto Castelo Branco assumir a Presidência, o líder batista carismático Enéas Tognini convocou milhares de evangélicos para um dia nacional de oração e jejum, para que Deus salvasse o País do perigo comunista. Aos 97 anos, o pastor Tognini segue acreditando que Deus, além de brasileiro, se tornou um anticomunista simpático ao movimento militar golpista. “Não me arrependo (de ter se alinhado ao discurso dos militares). Eles fizeram um bom trabalho, salvaram a Pátria do comunismo”, diz.

Assim, foi no exercício de sua fé que os evangélicos – que colaboraram ou foram perseguidos pelo regime – entraram na alça de mira dos militares .Enquanto líderes conservadores propagavam o discurso da Guerra Fria em torno do medo do comunismo nos templos e recrutavam formadores de opinião, jovens batistas, metodistas e presbiterianos, principalmente, com ideias liberais eram interrogados, presos, torturados e mortos. “Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, diz o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, da Penha, no Rio de Janeiro. Antigo membro do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que promovia reuniões para, entre outras ações, trocar informações sobre os companheiros que estavam sendo perseguidos, ele passou quase um mês preso no Doi-Codi carioca, em 1971. “Levei um pescoção, me ameaçavam mostrando gente torturada e davam choques em pessoas na minha frente”, conta o irmão do também presbiteriano Ivan Mota, preso e desaparecido desde 1971. Hoje professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dias lembra que, enquanto estava no Doi-Codi, militares enviaram observadores para a sua igreja, para analisar o comportamento dos fiéis.

Segundo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, antropólogo de origem presbiteriana, preso em 1962, antes do golpe, por participar de movimentos estudantis, os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis. “Os católicos não fizeram isso. Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, diz ele, considerado “elemento perigoso” no templo que frequentava em Niterói (RJ). “Pastores fizeram uma lista com 40 nomes e entregaram aos militares. Um almirante que vivia na igreja achava que tinha o dever de me prender. Não me encontrou porque eu estava escondido e, depois, fui para o exílio”, conta o hoje diretor da ONG Viva Rio.

O protestantismo histórico no Brasil também registra um alto grau de envolvimento de suas lideranças com a repressão. Em sua tese de pós-graduação, defendida na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Daniel Augusto Schmidt teve acesso ao diário do irmão de José, um dos delatores de Anivaldo Padilha, o bispo Isaías. Na folha relativa a 25 de março de 1969, o líder metodista escreveu: “Eu e o reverendo Sucasas fomos até o quartel do Dops. Conseguimos o que queríamos, de maneira que recebemos o documento que nos habilita aos serviços secretos dessa organização nacional da alta polícia do Brasil.” Dono de uma empresa de consultoria em Porto Alegre, Isaías Sucasas Jr., 69 anos, desconhecia a história da prisão de Padilha e não acredita que seu pai fora informante do Dops. “Como o papai iria mentir se o cara fosse comunista? Isso não é delatar, mas uma resposta correta a uma pergunta feita a ele por autoridades”, diz. “Nunca o papai iria dedar um membro da igreja, se soubesse que havia essas coisas (torturas).” Em 28 de agosto de 1969, um exemplar da primeira edição do jornal “Unidade III”, editado pelo pai do ministro da Saúde, foi encaminhado ao Dops. Na primeira página, há uma anotação: “É preciso ‘apertar’ os jovens que respondem por este jornal e exigir a documentação de seu registro porque é de âmbito nacional e subversivo.” Sobrinho do pastor José, o advogado José Sucasas Hubaix, que mora em Além Paraíba (MG), conta que defendeu muitos perseguidos políticos durante a ditadura e não sabia que o tio havia delatado um metodista. “Estou decepcionado. Sabia que alguns evangélicos não faziam oposição aos militares, mas daí a entregar um irmão de fé é uma grande diferença.”


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Os Estados Unidos e o golpe de 1964

Conforme Goulart divulgava as reformas de base e acercava-se de esquerdistas, aumentava a apreenção sobre o destino do país e a pressão externa.O Instituto Brasileiro de Ação Democratica (IBAD) e a Ação Democratica Popular (ADEP) financiaram candidatos direitistas nas eleições de 1962 e receberam ajuda do exterior por meio do Royal Bak of Cánada, Bank of Boston e First National City Bank, conforme a Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI). Consequentemente, Goulart suspendeu atividades daquelas instituições.O Council of the Americas, liderado por David Rockfeller e a CIA contribuiram para a desestabilização do governo Goulart. Empresas norte-americanas, Hanna e ITT pressionaram para provocar colapço economico brasileiro, por meio da suspensão da ajuda para o balanço de pagamentos do Brasil.
O embaixador dos EUA, Lincoln Lacerda e empresários conspiravam contra seu governo.
Em 1963, a CIA acreditava que a cessação de toda ajuda financeira ao Brasil poderia ser capitalizada internamente por Goulart (aumentaria a dívida externa, às nacionalizações e às relações com a União Soviética) e facilitaria uma solução autoritária e ultranacionalista, ameaçando os interesses privados norte-americanos. Daí a atuação da Cia na organização de grupos paramilitares e no fornecimento de armas, ponderando a hipótese de guerra civil.
Não há provas quanto a participaçao dos EUA que puseam fim no mandato de Goulart. Porém não há dúvidas de que estava alinhado aos conspiradores e organizou uma força tarefa para atuar nas águas brasileiras com finalidade de apoiar os revoltosos, fornecendo armas, munições, combustíveis e lubrificantes. A ajuda economica favoreceu forças opositoras a Goulart.
Além dos aspectos materiais, não se pode esquecer a influência ideologica anticomunista feita pelos EUA por meio do treinamento dos oficiais brasileiros que frequentaram suas escolas especializadas desde o final da Segunda Guerra. Se durante o governo de Jânio Quadros a ''política externa independente'' foi usada como instrumento de negociação diante dos EUA (Jânio praticou o que os analistas denominaram 'neutralismo tático') o mesmo não ocoreu com João Goulart. O governo deste, ao ser visto pelos EUA como esquerdista e um ''caso perdido'', ficou sem poder de barganha ante o parceiro hegemonico que ao invés de negociar, passou a adotar medidas que contribuiram para sua queda. A propósito, após a crise dos mísseis de Cuba em outubro de 1962, o ponto culminante da Guerra Fria, o abrandamento da bipolaridade retirou a possibilidade de se praticar um ''neutralismo tático'' eficiente.
Sobre o golpe de 1964, concluimos que os EUA não se envolveram diretamente na sua elaboração, porém o conheciam, o acompanharam com particular interesse e estavam preparados para um suposto apoio a revolta caso fosse necessario(operação Brother San). Além disso, acolheram o novo governo Castelo Branco com satisfação e inauguraram com este um política de apoio e colaboração.

Fonte:CERVO,Amado e BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. 2 Ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.