quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Resistência católica nos anos de chumbo

Médico e professor, o ex-militante Lurildo Ribeiro Saraiva lança Água Braba, livro que relata os primeiros passos da luta contra a ditadura de estudantes ligados à Igreja




"Eu sei quem são eles. Sei os nomes deles. Vou revelar à Comissão da Verdade.”" O ex-militante estudantil da Juventude Universitária Católica (JUC), que combateu a ditadura de 1964 e inspiraria a organização Ação Popular (AP), e hoje cardiologista e professor da UFPE, Lurildo Ribeiro Saraiva, 64 anos, refere-se aos componentes do temido Comando de Caça aos Comunistas (CCC), responsável por atentados e assassinatos de oponentes do regime militar, como o do padre Antônio Henrique Pereira Neto, em 26 de maio de 1969. Dias antes do sacrifício de padre Henrique, Lurildo esteve com o religioso, que era o pastor nomeado pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, como assistente da Pastoral da Juventude. A memória preservada dos fatos que antecederam e culminaram no suplício de padre Henrique e dos atos da resistência estudantil à ditadura é que o hoje médico quer relatar à Comissão Estadual da Memória e da Verdade. “"Eles nasceram nas salas de cinema. A primeira manifestação pública foi o trote de Medicina de 1965"”, relembra.
A resistência dos estudantes nas ruas, o protesto no debate da Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire) sobre a Aliança para o Progresso, em 1966, com o então candidato a presidente dos Estados Unidos, senador Robert (Bob) Kennedy –- que dois anos depois seria assassinado em Los Angeles -–, os dias de perseguições, ameaças, repressão e mortes de militantes são narrados no livro Água Braba -– Nos Tempos da Ditadura Civil Militar, que tem dom Helder como figura central da resistência estudantil católica à ditadura militar. Os tempos de repressão estão relatadas no livro que o ex-militante lança quinta-feira (27), às 17h, no Espaço Dom Helder da Igreja das Fronteiras, na Boa Vista, Recife, marco da resistência do ex-arcebispo. “"Padre Henrique vinha sendo perseguido 20 dias antes de sua morte"”, revela Lurildo. Fatos pré-Golpe de 64, a deposição do governador Miguel Arraes, as primeiras manifestações nos cinemas, o movimento estudantil nas ruas e o cortejo fúnebre do padre Henrique de 10 quilômetros, da Igreja do Espinheiro ao Cemitério da Várzea, cercado por soldados com baionetas empunhadas, historiam os anos 60.

 TRUCIDAMENTO

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