sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CEB: um novo sujeito na vida da igreja


As comunidades eclesiais de base (Cebs), organizadas desde meados dos anos sessenta, Caracterizadas como importante movimento de formação de lideranças para a sociedade civil, as Cebs no regime militar foram praticamente o único movimento social de contestação a atuar na legalidade. Com a redemocratização integraram o amplo leque dos movimentos populares, representando a encarnação de um novo modo de ser Igreja que fez a “opção preferencial pelos pobres”. Não se restringindo à animação da fé partiram para a organização dos mais pobres, incentivando a luta pelos seus direitos e organizando importantes movimentos reivindicatórios.. No caso brasileiro, a Igreja nacional vivia da dependência de movimentos europeus e sua ação pastoral orbitava em torno da paróquia, incapaz de responder às urgências da problemática brasileira. Em consonância às determinações do Vaticano II e na busca de uma nova estrutura que dinamizasse a vida religiosa e uma pastoral mais versátil e adaptada à realidade nacional a CNBB elaborou o Plano de Emergência (1962-1965) e o Plano Pastoral de Conjunto (1966-1970), nos quais se propôs a renovação da antiga pastoral paroquial: “Nossas paróquias atuais deveriam ser compostas de várias comunidades de base, dada sua extensão e densidade demográfica (...) será de grande importância empreender a renovação paroquial pela criação dessas comunidades de base (...) onde os cristãos não sejam pessoas anônimas”.  Este processo de renovação foi coroado de bastante êxito no Brasil. Ao mesmo tempo, as orientações do Vaticano II e Medellín sobre justiça social, democracia e direitos humanos, geraram muitos conflitos com o regime implantado em 1964, situados na incompatibilidade entre a lógica defendida pela Igreja e a colocação em prática pelo regime militar de uma lógica capitalista estrita. Esta incompatibilidade ficou clara quando da edição do AI-5 (1968), que opôs sistematicamente estas duas Instituições. Sobre esse significativo avanço do movimento operário e popular no país, a Igreja se inseriu estimulando os grupos de base, tanto em áreas rurais, através dos Sindicatos e do MEB, como nos
centros urbanos, pela Ação Católica e seus grupos especializados (ACO, JOC, JUC, etc.), algumas vezes aliadas e noutras vezes para fazer frente ao avanço de grupos esquerdistas. O golpe dos militares, com apoio de grupos econômicos nacionais e internacionais, interrompeu a crescente organização da sociedade civil brasileira.  Os canais de articulação da sociedade civil foram violentamente desarticulados e silenciados, suas lideranças presas, perseguidas e obrigadas ao exílio. A Igreja gradativamente assumiu a cena política, contribuindo para reorganizar a dilacerada sociedade civil brasileira. a hierarquia católica apoiou integralmente o golpe dos militares, temendo o avanço comunista no país. Porém à medida que a ditadura se tornou “mais dura”, a Igreja Católica, mantendo sua abertura interna, principalmente no governo Geisel, assumiu uma função de denunciar as agressões aos direitos humanos, na medida em que membros da própria instituição são também atingidos pela repressão. Igreja e Estado entram em conflito. A Igreja dessa forma assumiu papel de relevância na defesa dos direitos humanos e na luta pela redemocratização. É neste cenário que começaram a se organizar em pequenos grupos as comunidades de base. Nestes espaços aos poucos vai se recompondo a voz de setores da sociedade civil, favoreceram a afirmação da cidadania dos

pobres e a presença da Igreja junto ao povo.O caminho trilhado por estas comunidades ao longo da década de 1970, marcado pela grande autonomia em relação ao Estado, o seu crescente engajamento social e partidário, bem como a possibilidade de conferir, a partir do próprio cotidiano, aspectos de crítica social contundente, parecem, porém, ter extrapolado os limites propostos pela própria Igreja. Além de que, na
nova conjuntura dos nos oitenta, marcada pela crescente abertura política e reorganização da sociedade civil, com o ressurgimento de sindicatos independentes, partidos políticos e associações diversas, pareceu difícil às Cebs manterem mesma dinâmica. A Igreja deixou de ser o único espaço visível de presença crítica e aglutinador das oposições. Foi o momento das Cebs se abrirem para a sociedade. Frei Betto elucidou esta questão. Depois de anos de intensa mobilização, a década de 1990, época de incertezas e da força devassadora da globalização e do neoliberalismo, fez essas comunidades repensarem sua caminhada,
descortinando-se um cenário de “(...) diminuição das certezas e aumento das indagações”, como define Teixeira , sem, contudo, abandonar o caminho trilhado. Em meio a uma aparente escuridão, as Cebs continuam a lutar e acreditar na “nova sociedade”, mesmo que ela não seja tão clara quanto antes, é certo que os sonhos de utopia não se concretizaram e nem se concretizarão na sociedade que idolatra o Deus Mercado, excluindo e negando a seu povo o bem estar social e dignidade de ser verdadeiramente homem e
mulher. É possível construir uma sociedade livre e justa, democrática, participativa e igualitária. Esta é a certeza que nutre sonhos e está presente nos esforços e lutas dos milhares de participantes das Cebs, que ainda hoje, teimosamente, insistem em continuar.

fonte: http://www.fafich.ufmg.br/temporalidades/pdfs/3p73.pdf

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